Diário C.W. 21 de março (de 1736)

Domingo, 21 de março (de 1736)

O Sr Oglethorpe havia ordenado, mais de uma vez, que ninguém devia praticar tiros no domingo. Para isso, Germain ficou encarregado da guarita nessa manhã mas foi dispensado depois de apresentar-se. No meio do sermão um tiro foi dado. Davison, o oficial, correu para fora e achou que era o médico; disse-lhe que aquilo contrariava as ordens e que era obrigado a pedir-lhe que o acompanhasse até o comandante. O doutor imediatamente se irritou e disse: “O quê? Você não sabe que eu não posso ser considerado uma pessoa comum?” Não sabendo o que fazer, o oficial saiu e voltou, depois de consultar Hermsdorf, com dois sentinelas, e o levou para a guarita. Nesse momento a Sra Hawkins carregou e disparou uma arma; correu para o local, como uma louca, gritando que ela havia atirado e que também devia ser presa. O oficial e Hermsdorf tentaram persuadi-la a ir embora. Ela os insultou e, com extrema ira, jurou que mataria o primeiro homem que ousasse chegar perto dela. Ai, meu irmão! O que aconteceu com o seu promissor evangelizador?
Durante a tarde, enquanto eu estava conversando na rua com a pobre da Catherine, sua patroa veio em nossa direção e me agrediu verbalmente com extrema dureza e maldade dizendo que iria acabar comigo e com meu irmão; disse que os havia primeiramente considerado honestos mas que, estes, agora a haviam decepcionado; que eu era culpado pela prisão de seu esposo; que se vingaria e exporia a minha hipocrisia diária; minhas orações quatro vezes ao dia através de batidas de tambor e tantas outras coisas, que não ouso descrever, e que uma mulher, embora oriunda de Drury Lane, seria capaz de dizer. Eu apenas disse que tinha pena dela mas que desafiava tudo que ela ou o demônio pudessem fazer e que não poderia me ferir. Senti-me estranhamente preservado de exaltar-me e, ao partir, apenas lhe disse que esperava que ela, em breve, pudesse chegar a uma melhor compreensão do assunto.
Ao anoitecer, na hora de me recolher, me coloquei completamente diante de Deus, através da oração de meu irmão, a qual pedia submissão em conformidade com o sofrimento do Salvador.
[fui interrompido pela seguinte nota:
[SR. WESLEY,
Estando eu detido, por sua ordem e autoridade de sacerdote, o cuidado dos doentes não é mais minha obrigação. Como o Sr se intrometeu em minhas atribuições, eu requeiro, senhor, que os seguintes pacientes tenham assistência apropriada, de sua parte, como até agora eles têm tido sem nenhuma negligência da parte de seu injustiçado amigo John Hawkins.
[PS.-`Eu discordo que tenham o direito de confinar um cirurgião, especialmente durante um dia inteiro.`]
[Depois de uma breve oração, pedindo mansidão, eu fui e visitei todos os seus pacientes. E apenas disse (para ele): “Não tenho nada a ver com a sua prisão. A arma foi disparada durante o sermão e antes que o oficial de polícia voltasse eu, vestido com a alba, fui diretamente para a tenda e dei o sacramento. Imediatamente após isso, fui caminhar na floresta de onde não retornei até a hora do jantar, cerca de uma hora após sua detenção, quando ouvi pela primeira vez sobre ela. Você deve entender…se você diz que ele credita isso a mim. Ele nega completamente o fato”.
“E quando você depôs”, ele replicou,” por que não lhe disse que ele não tinha o direito nem a liberdade de me confinar como um capitão a seu tenente?”
[“Porque eu presumi que eles, melhor que eu, entendiam suas responsabilidades; e sua atitude em deixar sobre mim a questão, me fez decidir não me intrometer”.
Voltando para casa, fui informado dos elogios (“elogios”) que a Sra Hawkins havia certamente feito a mim e a meu irmão.]


O diário do Rev. Charles Wesley
Tradução de trechos do original por Simei Monteiro
The Journal of the Rev. Charles Wesley: Some Time Student of Christ Church, Oxford, to which are Appended Selections from His Poetry with an Introduction and Occasional Notes
Autor Thomas Jackson – Editora Baker, 1980