Quarta-feira, 24 de março (de 1736)
Fui capaz de orar fervorosamente pelos meus inimigos, em particular pelo Sr Oglethorpe, o qual, eu agora via como o chefe deles. Entreguei-me totalmente nas mãos de Deus mas sem desejar nem poder orar, agora quando mais necessito. O Sr Ingham veio ao meu encontro e leu o salmo trinta e sete: uma gloriosa exortação à paciência e confiança em Deus em diferentes contextos do bom e do perverso. Depois do café da manhã, entreguei-me novamente à intercessão, orando especialmente pela Sra Welch; para que Satanás, na forma daquela outra maldosa mulher, não pudesse permanecer ao seu lado1 . Em dúvida, se deveria ou não interceder pelos prisioneiros, consultei ao acaso2, as Escrituras e encontrei em Jer. 44: 16, 17: “Nós não daremos atenção à mensagem que nos pregaste em nome de Yahweh! Pelo contrário, com certeza faremos tudo o que desejamos fazer: queimaremos incenso à Rainha do Céu e ofereceremos libações, ou seja, derramaremos ofertas de bebidas em homenagem a ela, tal como fazíamos, nós e nossos líderes, nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém. Naqueles tempos vivíamos com fartura de alimento, éramos prósperos e nada sofríamos”. Isso me fez decidir a não me meter com eles.
Às onze horas encontrei a Sra Perkins que contou-me sobre a infâmia que a Sra Hawkins levou ao conhecimento do Sr Oglethorpe e que, caso ela fosse apoiada por ele, desencorajaria totalmente o povo. Mas tarde, me informou que a Sra Welch estava se arrependendo de ter se envolvido tanto com a Sra Hawkins; confessando que havia feito isso por covardia, pensando que o Sr Oglethorpe a iria defender contra todo mundo.
Logo depois, fui falar com a Sra Welch e, extremamente surpreso, a ouvi acusar-se a si mesma. Horror dos horrores! Nunca me senti tomado de tanta piedade. Pus-me a orar por ela. O Sr Ingham logo se juntou a mim. Ao sabermos da chegada do Sr Oglethorpe, todas as nossas orações expressaram completa confiança em Deus. A Sra Hawkins, o Sr. Ingham e eu fomos enviados a recebê-lo. Logo depois o encontramos em sua tenda com as pessoas ao redor inclusive o Sr e a Sra Hawkins. Depois de escutá-lo por um breve momento os oficiais foram repreendidos e os prisioneiros libertados. Ao sair, a Sra Hawkins disse-me, em tom humilde, que ainda tinha algo a dizer contra mim mas que faria isso em outro momento. Eu apenas respondi: “A Sra sabe que é impossível, para mim, temê-la”. Quando eles se afastaram, o Sr Oglethorpe disse-me que estava convencido e contente por eu não me haver envolvido em tudo isso. Eu disse-lhe que tinha algo, de menor importância, a compartilhar quando estivesse mais à vontade. Ele não tomou conhecimento de minhas palavras mas se pôs a ler suas cartas, e eu me afastei com o Sr Ingham, o qual estava completamente atônito. Isso era exatamente o que eu esperava.
1No original: « à sua mão direita »
2No original: « consultei o oráculo »
O diário do Rev. Charles Wesley Tradução de trechos do original por Simei Monteiro The Journal of the Rev. Charles Wesley: Some Time Student of Christ Church, Oxford, to which are Appended Selections from His Poetry with an Introduction and Occasional Notes Autor Thomas Jackson - Editora Baker, 1980 mais informações